HISTÓRIAQue João era esse que não se contentava com a fartura que fazia a fama da Santa Luzia? Era o João filho de outro João, só que Pereira Dias, e de D. Amélia. Mas era também o João inquieto, cutucado pela idéia fixa de construir um engenho onde a garapa, rolando, se transforma em rapadura, melado e... cachaça. Pois não é que num belo dia de 1916 esse João da Amélia, como era chamado e reconhecido, aparece na fazenda com uma imponente roda dágua de seis metros de diâmetro e um terno de moenda de ferro, um reluzente alambique de cobre e tanques de fermentação, luxos nunca vistos por aquelas bandas. Um tachão de cobre para o melado, a rapadura e a talhada completava o lote. Tudo instalado, João viu que estava bom. Acalmou a mente e o coração, como costumava acontecer com aqueles que pressentem a realização de um sonho. Os canaviais cercaram a sede da Santa Luzia estendendo o verde mais e mais para alimentar a fome do engenho. Nascia assim, por teimosia do João da Amélia, aquela que viria a ser a pinga mais apreciada da região. Tão apreciada que a fama chegou às cidades de Cambuí e Córrego do Bom Jesus. Não demorou muito e a tropa de vinte burros da Fazenda Santa Luzia, carregando uma enormidade de 1.500 litros de pinga, começou a cruzar as estradas por cima de pau e pedra levantando poeira e patinando na lama. Os tropeiros prevenidos levavam mantimentos e barraca, tralha necessária para quem passava até quinze dias na estrada. E passariam muito mais, porque, em 1920, a pinga do João da Amélia já era um pitéu de estalar a língua. | |