GAVIÃO DO VALE UNI IRMÃOS EM PASSATEMPO LEVADO A SÉRIO
O município de Belo Vale, conhecido pela sua tradição histórica – com os legados da Fazenda Boa Esperança, do Barão de Paraopeba, e do Museu do Escravo –, pelas belezas naturais e pela produção de mexerica "ponkan", vem ganhando fama como produtor de cachaça artesanal de qualidade. Uma das marcas de destaque é a cachaça Gavião do Vale, do casal Oliveira e Eunice Paiva. Produzida na fazenda Gavião, numa área de 49 hectares, localizada entre Belo Vale e Piedade dos Gerais, a bebida é comercializada nas versões ouro e prata, ambas envelhecidas durante cinco anos. Dona Eunice conta que a Gavião do Vale é muito apreciada pelo público feminino. "A nossa bebida tem baixa acidez, suavidade e um toque adorável".
Vendida basicamente nos municípios próximos como Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ouro Branco, Moeda e Tiradentes, e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Gavião do Vale começou sua história por acaso, há quase 10 anos. Em 1999, o procurador de justiça Oliveira Salgado Paiva participou, juntamente com o irmão, o médico Olinto de Paiva Neto, de um curso de degustação na Associação Mineira de Produtores de Aguardente de Qualidade (Ampaq). Dali, saíram com a ideia de montar um pequeno alambique, igual ao das histórias que escutavam do avô Balbino Lopes Salgado, imigrante português que chegou ao município de Abre Campo no final do século XIX, empregado na Fazenda Córrego Frio, produtora de cana-de-açúcar, fumo e café. Balbino enamorou-se de Cornélia, filha do fazendeiro José de Abreu, casando- se em seguida com ela.
Como gestor da fazenda Córrego Frio, Balbino ajudou na fabricação da cachaça Cristalina, que se tornou uma das marcas mais conhecidas na primeira metade do século XX na região da Zona da Mata Mineira. Com a morte de José de Abreu, ele passou a ser o proprietário da marca. "Meu avô era conhecido também como Tenente Bino, por ter exercido cargos políticos de destaque durante mais de 30 anos em Abre Campo. Em 1950, ele vendeu a patente da Cristalina para um empresário da cidade chamado Francisco Nassif. Alguns anos depois conheci o senhor Nassif, que me disse ter comprado todo o alambique do meu avô, as dornas, a caldeira, tudo. Só não comprou a receita. Aí não tinha jeito de acertar a mão na cachaça", conta Oliveira.
Proprietários da fazenda Gavião desde a década de 1990, Oliveira e Olinto resolveram então, em 2000, construir o engenho. O que parecia um passatempo foi levado a sério, assumindo um tom profissional.
O investimento inicial priorizou a qualidade técnica e incluiu equipamentos: dornas de aço inox, filtros, caldeira, envasadora, uma adega com 80 barris de carvalho e mais seis tonéis de jequitibá. O planejamento previu a adequação da produção às normas técnicas do Ministério da Agricultura.
Os irmãos receberam consultoria do engenheiro agrônomo Luiz Cláudio da Silveira, da Universidade Federal de Viçosa, que deu orientações sobre o plantio da cana-de-açúcar; e da doutora Amazile Biagioni Maia, responsável pelas análises químicas da bebida. Além da estrutura de produção, a fazenda Gavião se preocupou também com os padrões ambientais, com rodízio do solo para o plantio da lavoura, o reaproveitamento do vinhoto (usado na irrigação) e do bagaço. Na propriedade, há ainda uma reserva de mata nativa, de nove hectares, e três nascentes.
Com a morte do irmão e idealizador da Gavião do Vale, Olinto Paiva Neto, em 2004, seu Oliveira contou com a ajuda da esposa Eunice Caetano para gerir a fazenda. A empresária passou a desenvolver estratégias para comercialização da marca, com a participação em feiras, como a Feira e Festival Internacional da Cachaça (ExpoCachaça), e eventos com o apoio do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas).
A empresa Salgado e Paiva Agroindústria Ltda., responsável pela Gavião do Vale, também tem contado com um grupo de distribuidores nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Ao obter o selo do Inmetro em dezembro de 2008 por meio do Programa Nacional de Certificação da Cachaça (PNCC), a Gavião do Vale deu mais um passo no seu projeto de expansão. "O selo foi uma vitória pra gente, pois certifica a nossa qualidade para o mercado e o público em geral.
Queremos que a nossa marca se torne conhecida e passe a ser consumida por mais pessoas", defende Eunice Caetano.